Campeonato Mineiro 2002
05 de maio de 2002, o dia em que a Caldense se tornou campeã mineira. Foi a primeira e única vez que um time de longe da região metropolitana de Belo Horizonte conseguiu alcançar esse feito. A competição contou com apenas oito participantes, pois Cruzeiro, Atlético e América estavam descontentes com a renda proveniente do Campeonato Mineiro e decidiram jogar a extinta Copa Sul Minas, que parecia ser mais lucrativa.
Pelo fato de os times grandes não terem participado dessa edição do estadual, a Caldense foi “amaldiçoada” com um asterisco em seu título. Mas se engana quem pensa que o caminho para o triunfo foi fácil. A pré-temporada para a Veterana começou de maneira despretensiosa. O elenco era enxuto e a imprensa estava desacreditada. O time treinava duro. Internamente todos sabiam do potencial da equipe. Mas ao longo da caminhada, foram inúmeros obstáculos, dentro e fora de campo.
O grupo era muito unido, um corria pelo outro. É o que comenta o zagueiro Paulista, um dos principais jogadores do time: “Nosso time era tecnicamente muito forte. O Gilberto pegava tudo lá atrás, meu parceiro de zaga Nelson passava muita tranquilidade. Alguns jogadores não apareciam tanto para a torcida, mas nos ajudavam muito, como o Joílson e o Inca. Tínhamos a força do Ramos, o dinamismo do Nenê Miranda. Além da velocidade do Zezinho, do Gustavinho e a precisão do Carioca”.
03 de fevereiro – Villa Nova 1 x 1 Caldense
O campo do time de Nova Lima possuía dimensões inferiores e um gramado muito ruim, o que dificultou a vida da Veterana. Não bastasse isso, a arbitragem era “caseira”. A Caldense dominou a maior parte do jogo e saiu na frente com gol de Beto, mas ao final da primeira etapa o juiz inventou um pênalti e o Villa empatou.
17 de fevereiro – Caldense 3 x 0 Ipatinga
A equipe do Vale do Aço viria a ser a principal concorrente na briga pelo caneco, mas a Veterana sobrou em campo. Zezinho abriu o placar, Gustavinho ampliou e Ramos fechou com um dos mais belos gols da história do Ronaldão, uma pancada de fora da área no ângulo. Ao final da rodada a equipe alviverde assumiu a liderança pela primeira vez.
24 de fevereiro – Uberlândia 1 x 2 Caldense
A partida mal começou e a Veterana já levou um susto. O Uberlândia marcou um gol aos 17 segundos, mas a Caldense agiu rápido e conseguiu empatar dois minutos depois, com Zezinho. O atacante infernizou a defesa adversária. O técnico Zezito mostrou que tinha o time nas mãos e que sabia explorar as características de cada atleta. Não demorou muito, a Veterana virou com Beto e garantiu a vitória, se mantendo na primeira posição.
03 de março – Caldense 3 x 3 Rio Branco
Muita chuva, mas muita chuva mesmo. Ronaldão lotado. Um clássico épico. O time de Andradas abriu o placar, a Veterana virou. O Rio Branco reverteu e assumiu a frente no marcador, mas a Caldense, com muita raça, alcançou o empate novamente e deu números finais a partida.
10 de março – URT 1 x 0 Caldense
O Verdão não apresentou o bom futebol das rodadas anteriores e acabou levando um gol. Nos acréscimos da partida a Veterana teve a oportunidade de empatar em uma cobrança de pênalti, mas Carioca desperdiçou a oportunidade. Alguns torcedores da equipe de Patos de Minas invadiram o campo para comemorar o lance e agrediram o goleiro Gilberto, que saiu desacordado de maca. Pela primeira vez a Caldense perdeu a liderança
17 de março – Caldense 1 x 1 Tupi
O jogo marcou a despedida de Zezito que, por divergência com dirigentes da Caldense, acabou deixando o cargo. Dentro de campo a equipe saiu na frente com Inca. As coisas pareciam ir bem, mas o time começou a demostrar sinais de cansaço. Sofreu o empate e por pouco não saiu derrotado.
24 de março – Nacional 1 x 6 Caldense
Walter Ferreira assumiu como técnico da Veterana, trouxe reforços e o time sob seu comando jogou de forma arrasadora. A equipe entrou em campo com uma postura mais ofensiva e Carioca encontrou o caminho das redes, marcou três e viu seus companheiros Joílson, Lauro e Inca fecharem a goleada. Uma partida memorável.
31 de março – Caldense 5 x 1 Villa Nova
Devido à proximidade com a capital, o Villa parecia estar sendo favorecido pela arbitragem nos jogos. Mas no futebol, a Caldense foi muito superior. Gustavinho arrebentou com o jogo e anotou três tentos. Paulista e Nenê Miranda também deixaram suas marcas. A Veterana poderia até ter feito um placar mais elástico, mas desperdiçou algumas boas chances e viu o Villa marcar seu gol de honra de pênalti. A torcida, mais do que nunca, passou a acreditar no título.
07 de Abril – Ipatinga 3 x 1 Caldense
Um jogo repleto de adversidades. A Veterana estava irreconhecível em campo. A arbitragem foi muito mal na partida, prejudicou a Caldense, que levou dois gols irregulares. Mas apesar da derrota, o time de Poços se manteve na liderança.
14 de abril – Caldense 2 x 2 Uberlândia
O jogo teve de ser realizado em Alfenas, pois a Veterana havia perdido o mando de campo. A partida marcou o confronto com Zezito, que agora comandava o Uberlândia e conhecia muito bem seu ex-time. Com isso, conseguiu anular em partes os pontos fortes da equipe e arrancar um empate.
21 de abril – Rio Branco 0 x 1 Caldense
A Veterana armou um forte esquema de marcação com três volantes. A partida foi como um jogo de xadrez. A torcida alviverde marcou presença no Parque do Azulão e assistiu seu time inaugurar o marcador. O Rio Branco tentou buscar o empate, mas acabou sendo derrotado.
28 de abril – Caldense 2 x 1 URT
O jogo mais marcante da campanha. O arbitro Carlos Henrique Tosta estava nitidamente tentando prejudicar a Veterana, que havia saído atrás no placar. Carioca empatou e, um minuto depois, o juiz assinalou um pênalti inexistente para o time de Patos de Minas. O goleiro Gilberto defendeu a cobrança e levou o estádio a loucura. O jogo parecia já ter números finais quando Joílson, aos 48 do segundo tempo, fez um gol de placa e deu a vitória à Caldense. O time saiu de campo ovacionado.
01 de maio – Tupi 2 x 2 Caldense
Logo no comecinho do jogo, a Veterana já estava perdendo por 2 a 0. O time de Poços tentava se recuperar quando o zagueiro adversário tirou uma bola com a mão dentro da área e foi expulso. Clayton marcou de pênalti e em seguida Zezinho empatou. A Caldense pressionou, mas não conseguiu o empate. Nessa altura do campeonato de pontos corridos, o Ipatinga brigava ponto a ponto pela liderança, mas a equipe alviverde levava vantagem de um ponto.
05 de maio – Caldense 2 x 0 Nacional
A semana de preparação para o jogo que poderia concretizar o título da Veterana foi marcada pela ansiedade. A concentração para a partida aconteceu em um hotel de Poços. Os jogadores não viam a hora de entrar em campo, alguns mal conseguiram dormir. O time costumava chegar ao estádio duas horas antes do inicio da partida, sempre fazendo o trajeto pela Avenida João Pinheiro. Mas a fim de evitar trânsito, foi feito uma rota diferente.
Quando o ônibus chegou ao estádio, não conseguiu entrar, de tanta gente nos arredores do Ronaldão. A delegação da Caldense teve de descer e andar meio a multidão, do ginásio Artur de Mendonça até a entrada do vestiário. Ali os atletas já absorveram toda uma energia positiva dos torcedores e se empolgaram ainda mais. Na preleção, o foco foi sobre não deixar escapar a oportunidade. Os que tiveram a palavra naquele momento frisaram o desejo de fazer história e sintetizaram seus sonhos em palavras, que foram suficientes para emocionar e motivar o elenco para a partida.
A Veterana entrou em campo pilhada, as arquibancadas estavam superlotadas e o Nacional vinha com “motivações extras”. Logo aos quatro minutos, em grande lance pela esquerda, Gustavinho bateu cruzado e abriu o placar. O estádio foi a loucura. O gol deu uma tranquilidade para a equipe. O primeiro tempo acabou sendo morno, com a Caldense administrando as ações. Durante o intervalo, o papo foi de cobrança. Os jogadores sabiam que precisavam marcar mais um para não correrem riscos. No início da segunda etapa, alguns atletas começaram a sentir a parte física devido à forte marcação e até mesmo o desgaste da temporada, mas tinham de se superar.
A noite já chegava, os refletores se acendiam. O goleiro Gilberto repõe a bola em jogo com um chutão para o ataque, Carioca mata no peito e toca para Inca, que deixa de lado para Joílson. O jogador vê Zezinho se movimentando e passa para o baixinho. O marcador tenta roubar a bola, mas fica na saudade. Zezinho arrisca um chute de fora da área, o goleiro gasolina espalma. O rebote sobra na pequena área para Carioca. A torcida se agita, o banco de reservas se levanta. O atacante chuta. Um silêncio ensurdecedor reina por um milésimo de segundo. A rede se estufa, é gol. O tão sonhado gol do título. A emoção é enorme, a ansiedade é imensa. O árbitro apita e a Caldense é campeã mineira. A torcida invade o campo, leva a roupa dos jogadores, tufo de grama, pedaço de rede. Uma festa generalizada. Os jogadores desfilam no carro do corpo de bombeiros, foguetes para todo lado. Enfim, daí para frente, o resto é história.
A implacável busca da Caldense pelo 1º título de campeã do interior