Na temporada de 1945, a Caldense iniciou seus jogos no mês de abril, com a disputa do Torneio Início, abertura do Campeonato Municipal. A competição foi realizada entre maio e outubro, com a participação de times como RAF, Tupan, Estudantes, América de Poços e a Veterana foi a grande campeã.
Nos finais de semana em que não tinha jogos pelo campeonato, a equipe alviverde realizava amistosos contra equipes da região, geralmente provenientes do Leste Paulista e Sul de Minas. O elenco da Veterana na ocasião era amador e composto majoritariamente por jogadores de Poços de Caldas. Os principais nomes do time nesse período eram Nevercínio, Tino, Ezaú, Chaveco, Petrônio e Gabardo.
Nos jogos amistosos, era comum a equipe atuar com reforços pontuais e convidados de destaque de cidades vizinhas. Normalmente a diretoria alviverde pagava um cachê para o reforço ou oferecia hospedagem, alimentação e um período de descanso na estância termal.
Foi agendado um amistoso contra o Smart Futebol Clube de Itajubá-MG para o dia 05 de agosto de 1945 no Estádio Coronel Cristiano Osório. O confronto rendeu grande expectativa, pois a Caldense iria promover a estreia de oito novos jogadores. Um deles o centroavante João Ramos do Nascimento, o Dondinho, tido como o “Leônidas Mineiro” (em alusão ao craque do São Paulo e da Seleção Brasileira, o atacante Leônidas da Silva) e pai de um pequeno garoto de quatro anos chamado Edson Arantes do Nascimento.
“Dondinho vem precedido de grande fama como jogador de largos recursos técnicos, já tendo jogado durante muito tempo pelo Atlético de Três Corações, quadro cognominado ‘Os Tigres do Sul’. É justo portanto, a enorme expectativa com que é aguardado o prélio”, anunciou o jornal Diário de Poços de Caldas.
A bola rolou, era um domingo a tarde e Dondinho fez sua estreia pela Caldense. O duelo terminou empatado em 1 a 1. Chaveco fez o gol da Veterana e Corinto anotou o tento dos visitantes. Porém, Dondinho foi muito marcado e não rendeu o esperado.
“Dondinho não justificou a fama que o precedeu. Embora estivesse indeciso, demonstrou algum recurso. Talvez não estivesse no seu dia e achamos que uma só partida não é o suficiente para se verificar as qualidades técnicas de um player, ainda mais quando é cercado de fama de craque. Esperamos portanto que seja dada a Dondinho mais uma oportunidade”, relatou o jornal Diário de Poços.
E novas oportunidades foram dadas. “A passagem do Dondinho pela Caldense se deve ao Seu Juca Anacleto. Quando o time atuava, o Seu Juca telefonava para contratá-lo. O Dondinho exigia hotel, um carro à disposição e oferecia seu futebol em troca. Em um jogo em São José do Rio Pardo, a Caldense estava perdendo de 2 a 0 e o Dondinho estava no banco. Depois ele entrou, fez um carnaval, marcou três gols e deu a vitória à Veterana por 3 a 2”, contou o saudoso jornalista Décio Alves de Morais.
Dondinho não imaginava, mas suas grandes atuações como essa, inspirariam seu filho, Edson, a iniciar no futebol e anos mais tarde se tornar Pelé, o maior jogador da história do futebol.
Texto e pesquisa: Renan Muniz
Fontes: Acervo Jornal Diário de Poços, Livro AAC História e Glórias de Hugo Pontes, Entrevista com Décio Alves.